O inimigo está dentro
Ronaldo Tedesco e Silvio Sinedino *
Quando
Lula ganhou a eleição presidencial em 2002, o povo brasileiro em geral e os
setores organizados da classe, em particular, tiveram uma nova esperança acesa
em seus corações. Seria a oportunidade de colocar a limpo os últimos anos do
século passado quando, sob a égide do Governo FHC, a Petrobrás foi levada ao
sucateamento e desmembramento para sua privatização. Seria uma oportunidade
histórica de nos livrarmos de uma maldição tucana que acabou com o monopólio
estatal do petróleo e através da lei de concessões, estava entregando as
riquezas de petróleo e gás do nosso país, bem como outras joias como a VALE, as
TELES, as petroquímicas etc. Sem falar nas dezenas de denúncias de corrupção
que envolviam o governo FHC e seus aliados e que precisavam ser apuradas e ter
seus principais artífices presos.
Junto
com isto, o corpo técnico da companhia julgava que diversos problemas que
vivenciava naqueles difíceis tempos tucanos pudessem ser resolvidos, como as
questões relativas à PETROS, à terceirização, à segurança nas plantas
industriais, aos contratos e novos empreendimentos, a situação dos aposentados
etc.
Passados
quase 12 anos, é preciso que seja feito um pequeno balanço do que aconteceu. A
Petrobrás, é verdade, não foi privatizada. Mas até o pré-sal está sendo
leiloado, agora no sistema de partilha. Se fizeram 4 leilões sob FHC, sob Lula
e Dilma foram mais sete realizados. A Petrobrás voltou a contratar
trabalhadores diretos e saiu de menos de 40 mil funcionários para mais de 80
mil funcionários hoje. Mas a terceirização está desgovernada, com mais de 320
mil contratados indiretos. A segurança nas plantas industriais é sofrível, para
dizer o menos, com a gestão burocrática do papel querendo substituir as
condições inseguras que os equipamentos sucateados anos a fio mantém junto aos
locais de trabalho. Os contratos e novos empreendimentos vivem o calvário dos
EPCistas, relegando a memória técnica adquirida em anos de conhecimento
tecnológico de ponta na indústria petroleira. E a Petros?...
Bem,
a Petros passou a ser utilizada pelos companheiros da FUP como um bunker para auxiliar o governo a
implementar suas políticas públicas. Os petroleiros passaram a sustentar
financeira e administrativamente dezenas de planos do chamado MULTIPATROCÍNIO
da Petros. Em 10 anos, em valores históricos, cerca de R$ 200 milhões
provenientes dos cofres dos planos dos petroleiros foram utilizados para a
administração dos planos de aposentadoria de diversas categorias.
A
Petros é ré confessa, como comprova a proposta de ajuste de conduta feita pela própria
Petros à Previc (órgão fiscalizador). Nesta proposta, a Petros anistia os
gastos anteriores e as despesas atuais de todos estes 36 planos deficitários
existentes. E, mesmo assim, somente 7 – sete! – conseguiram apresentar algum irrisório
superávit. Isto por que a provisão de pagamento de ICMS – que teria que ser
paga por todos os planos foi lançada – uma vez mais - somente para os planos
Petros 2 e Petros do Sistema Petrobrás.
Ou
seja, ao invés de apurar as denúncias de corrupção da era FHC – a maioria feita
pelos próprios companheiros – os governistas preferiram se calar. Optaram por
manter os aliados de FHC como seus aliados. Construíram uma aliança nacional
com partidos que sustentaram historicamente a direita em nosso país. E, com
isto, mantiveram suas práticas e adquiriram seus hábitos.
Senhores
da FUP: não terão a nossa concordância para gastar o dinheiro dos petroleiros
ativos e aposentados sem o conhecimento e o consentimento destes. Se a direita,
que são os novos amigos que vocês fizeram nos últimos anos, está sujando o nome
da Petrobrás e da Petros, só faz isto pelo silêncio nefasto que vocês têm
mantido. Graça Foster e Guido Mantega estão reféns de corruptos por uma opção
política que vocês fizeram em 2003, no momento em que assumiram o Palácio do
Planalto e preferiram se calar diante da corrupção e da venda dos direitos e do
patrimônio dos trabalhadores e do povo brasileiro.
O
inimigo não está entre os que lutam para defender a PETROBRÁS e a PETROS. O
inimigo não está entre os seus antigos aliados, abandonados por vocês. O
inimigo está ao lado de vocês, dentro das alianças que vocês construíram em
nome de uma governabilidade que causa nojo as pessoas de bem.
* Texto de Ronaldo Tedesco e Silvio Sinedino publicado em 30/04/2014 no Jornal Surgente 1264, do Sindipetro RJ, em resposta a novos ataques da FUP aos lutadores da categoria petroleira.